terça-feira, janeiro 18, 2005

A Realidade do Futebol Português

"A Superliga não está melhor este ano, na época em que o líder, ou os três líderes, têm menos pontos do que nunca. Pode até estar mais competitiva, se alguém souber o que isso é, mas melhor é que não, desculpem lá.

Para que a Superliga fosse melhor era necessário que se jogasse futebol. Nem sequer precisava de ser muito bom. Bastava que o tempo útil de jogo fosse sempre superior pelos menos a 45 minutos.
Dava jeito também que o número de faltas baixasse que as simulações de pequenas lesoes em campo acabassem. Claro que fazer acontecer o milagre daria trabalho a treinadores, jogadores e sobretudo árbitros. Assim, com mais paragens do que lances de bola, joga-se pouco. Como se joga pouco, os bilhetes ficam ainda mais caros. Cada minuto de futebol efectivo sai caríssimo e os estádios novos são giros, mas para vê-los é melhor ir durante a semana..

Porque se joga pouco, o público tem tempo de sobra para se insultar. E para insultar o árbitro. Porque a coisa às vezes é monótona, pratica-se tiro ao árbitro com o que estiver à mão.
Porque é um hábito antigo não respeitar a mãe e todos os parentes próximos do árbitro, a Comissão Disciplinar da Liga pune com suavidade os desmandos. Por isso continuam a ir ao futebol muitos dos que ficavam muito bem em casa e continuam em casa os que dava jeito que estivessem nos estádios.

No pouco tempo que há para jogar seria pedir muito que os jogadores interpretassem grandes números. Ficamos convencidos de que nem os mais exigentes treinadores lhes pedem tal coisa. Aliás, a vida esteve muito complicada para quem grita do banco, tantos ficaram pelo caminho ao longo da primeira volta.

Descontado o tempo de fama dos apanha-bolas, carros-macas, médicos e outro pessoal que vê a coisa mesmo junto à linha, subtraídas as imensas preocupações defensivas e os cartões que demoram eternidades a sair do bolso, devem ter sobrado dez minutos por jogo para fazer coisas bonitas, como diria Artur Jorge. Percebe-se facilmente que se exige de mais aos jogadores em Portugal.

Nesses dez minutos, os grandes foram piores do que é costume e por isso os adversários pareceram melhores. Sejamos justos, alguns até foram. Se o campeonato acabasse hoje valeria a pena escrever uns parágrafos a elogiar o Rio Ave, o Sporting de Braga, uma ou duas noites do Vitória de Setúbal, um passe de Juninho Petrolina no Belenenses, até um ou outro rasgo do Marítimo ou do inconstante Nacional.

Querem uma prova? O F.C. Porto, que partiu para a guerra com tudo do seu lado, é a grande decepção da primeira volta. No entanto, se a coisa acabasse aqui seria campeão. Depois venham dizer que a Superliga faz sentido. Mas para pior deixem estar assim. Pelo menos andamos entretidos enquanto não chove. "

in maisfutebol.iol.pt